sábado, 29 de novembro de 2008
“My sweet prince you’re the one”
O silêncio atravessa os meus dentes, mais rápido que a luz, porque agora está tudo escuro; arrepia a sensibilidade forte e ríspida de que os caninos são feitos e esconde-se por detrás das gengivas sangrentas e do espírito que há muito apodreceu no hálito cinzento da rua espessa. A droga atravessou-se na corrente eléctrica do organismo e fez amor com os neurónios do cérebro que se quer desligar. Só queria um minuto de silêncio que fosse, um minuto em que a minha mente não tivesse que ter consciência dele, um minuto de morte, e uma eternidade de vida, e um minuto vulnerável ao qual pudesse acrescentar quantos mais segundos desejasse.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Acabar. Terminar a obra com um respiro metamorfoseado num suspiro suspenso pelo vento que arrastou as lágrimas que deixaste derramadas na pintura do retrato. Prometi que te deixaria por muitíssimo tempo, seja ele quanto for. Vou deixar-te. Acabar. Morrer. Nascer.
O consumismo das palavras é cada vez mais insuportável. Estou ansiosa pela altura em que silêncio vai ser o orgasmo entre as gentes; quantas não vão ser aquelas que se orgulham do som regular e pertinente do dito cujo?! Vão retirar à morte, uma das suas mais ousadas virtudes, que vergonha. E, ainda que os meus apetites linguísticos fossem alargados, ainda que muita da minha carne precisasse de senti-las, jamais perguntaria por elas a ti.
Gastaste com frequência tudo o que de bom havia em mim, e por fim, ainda pediste clemência que a culpada fui eu que te tentei. És um triste e de uma coisa estou certa, tens algures escondido no teu ADN um fim igual ao meu, igual ao de tudo.
Eu preciso de ti, sempre precisei. Estou desesperada. De todas as vezes que piso o chão da rua, não é para respirar liberdade, não é para vislumbrar o céu por entre as nuvens e as casas e o mundo e a atmosfera e sei lá mais o quê, é para completar a rotina, para ser mais uma peça da obra de deus, do quadro inacabado com o ADN igual ao meu; é para me sentir preenchida com objectos, com objectivos, que não fui eu que acabei por defini-los, nem foi a vida, foram outras pessoas que precisaram de mim para conspirar as suas. E bem felizes são os animais. Repletos de inocência a cada poro da sua pele, verdadeiros e sinceros à natureza que os criou, completamente prontos para os seus desígnios, fatalistas e de certo modo imortais. Ninguém sentirá falta da abelha que morreu, porque a seguir, vem outra sacar o pólen da mesma flor. São vários os momentos em que suplico por esta inocência, e, quanto mais me apercebo de que dela poderia ter desfrutado uns anos antes, perdi tempo com complicações da vida. Mais uma vez não fui eu a autora dessas. Mais uma vez não escolhi nada. O controlo em demasia persegue-me, já não bastava o medo comum que afecta qualquer ser humano na flor da idade, já não chegava qualquer súplica normal de que um ser racional está sujeito, mais uma vez saí prejudicada.
Acabar. Morrer. (purgatório) Nascer.
O consumismo das palavras é cada vez mais insuportável. Estou ansiosa pela altura em que silêncio vai ser o orgasmo entre as gentes; quantas não vão ser aquelas que se orgulham do som regular e pertinente do dito cujo?! Vão retirar à morte, uma das suas mais ousadas virtudes, que vergonha. E, ainda que os meus apetites linguísticos fossem alargados, ainda que muita da minha carne precisasse de senti-las, jamais perguntaria por elas a ti.
Gastaste com frequência tudo o que de bom havia em mim, e por fim, ainda pediste clemência que a culpada fui eu que te tentei. És um triste e de uma coisa estou certa, tens algures escondido no teu ADN um fim igual ao meu, igual ao de tudo.
Eu preciso de ti, sempre precisei. Estou desesperada. De todas as vezes que piso o chão da rua, não é para respirar liberdade, não é para vislumbrar o céu por entre as nuvens e as casas e o mundo e a atmosfera e sei lá mais o quê, é para completar a rotina, para ser mais uma peça da obra de deus, do quadro inacabado com o ADN igual ao meu; é para me sentir preenchida com objectos, com objectivos, que não fui eu que acabei por defini-los, nem foi a vida, foram outras pessoas que precisaram de mim para conspirar as suas. E bem felizes são os animais. Repletos de inocência a cada poro da sua pele, verdadeiros e sinceros à natureza que os criou, completamente prontos para os seus desígnios, fatalistas e de certo modo imortais. Ninguém sentirá falta da abelha que morreu, porque a seguir, vem outra sacar o pólen da mesma flor. São vários os momentos em que suplico por esta inocência, e, quanto mais me apercebo de que dela poderia ter desfrutado uns anos antes, perdi tempo com complicações da vida. Mais uma vez não fui eu a autora dessas. Mais uma vez não escolhi nada. O controlo em demasia persegue-me, já não bastava o medo comum que afecta qualquer ser humano na flor da idade, já não chegava qualquer súplica normal de que um ser racional está sujeito, mais uma vez saí prejudicada.
Acabar. Morrer. (purgatório) Nascer.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
14 De Novembro de 2008
O plano. Há um plano por baixo de mim, por baixo de todos os meus medos e tormentos. Houve sempre um. Escondido, adormecido ao relento. Quero vivê-lo, como se fosse a estrada que piso e tu, que sempre foste o meu chão, tanto é o ódio que nutro por ti, tanta é a vergonha. Perante toda a minha vida, julguei ter sido abençoada pelos dias em que a maldição não me atacava com austeridade, e, agora que ultrapassei esse período medieval, compreendi. Jamais saborearei ruas como aquela do plano, tenho a certeza que a vida me prepara alguma manha para me fazer arrepender das artimanhas que vou calcando.
Mais do que ser feliz, não quero ser ignorante. Respirar dezasseis anos envolta de cimento mais antigo que me acompanha à medida que o meu espaço vai alargando reduzindo-me cada vez mais à insignificância é absolutamente irrespirável. Não permitirei, por bem, que tudo isto se alargue por mais anos do que aqueles que sonhei. Inalo, com cuidado, todas as palavras fedorentas que me desejas tatuar na cara, mas um dia, um dia vai ser tarde. Um dia, os meus ouvidos vão ganhar a virgindade e fazer um voto casto. Engolirei com cuidado esse pôr-do-sol.
O plano. Há um plano por baixo de mim, por baixo de todos os meus medos e tormentos. Houve sempre um. Escondido, adormecido ao relento. Quero vivê-lo, como se fosse a estrada que piso e tu, que sempre foste o meu chão, tanto é o ódio que nutro por ti, tanta é a vergonha. Perante toda a minha vida, julguei ter sido abençoada pelos dias em que a maldição não me atacava com austeridade, e, agora que ultrapassei esse período medieval, compreendi. Jamais saborearei ruas como aquela do plano, tenho a certeza que a vida me prepara alguma manha para me fazer arrepender das artimanhas que vou calcando.
Mais do que ser feliz, não quero ser ignorante. Respirar dezasseis anos envolta de cimento mais antigo que me acompanha à medida que o meu espaço vai alargando reduzindo-me cada vez mais à insignificância é absolutamente irrespirável. Não permitirei, por bem, que tudo isto se alargue por mais anos do que aqueles que sonhei. Inalo, com cuidado, todas as palavras fedorentas que me desejas tatuar na cara, mas um dia, um dia vai ser tarde. Um dia, os meus ouvidos vão ganhar a virgindade e fazer um voto casto. Engolirei com cuidado esse pôr-do-sol.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Li nalgum sítio que as pessoas se dividiam em dois caminhos à nascença; uns ficavam condenados à morte e outros eternamente condenados. Não será, certamente, por isso que a tragédia tenha um sabor amargo e singular, quando pronunciada, não obstante, o ser humano reduzidíssimo que é, pensa sempre em grandes escalas quando engole tamanha palavra nos escombros da mente. Eu cometi esse erro, sempre que me imaginava perto de uma linha férrea, sentia tragédia a escorrer dos dedos esquecendo-me, porém, que a verdadeira jazia num pequeno lugar. E que os eternamente condenados teriam – a sempre como poios num passeio urbano. Há que pensar que a vida é um caminho escolhido, mesmo assim, não teria piada alguma pensar que sem possibilidade de protesto a nossa sina tenha sido dita em voz alta num tempo em que os nossos ouvidos não ouviam.
Às vezes, do púlpito do pensamento fugaz, desejaria viver naquela realidade por mais um segundo, e, num piscar de olhos, encontrar outro sítio e outras gentes. Quantas foram eternas as vezes em que me rolei em certas coisas esperando que fossem um fim em si mesmas, de quantas foram falhanços que me colocaram no abismo. E, agora, que me perdi nas palavras, já nem elas me salvam, como se o meu dia fosse todo ele feito de árduos esforços a falar comigo mesma e a tentar encontrar as palavras certas que encaixam naquilo que sinto embora toda, tanta o eu que fala comigo e aquele que não, sente o mesmo…ai! é esta rebuscada maneira que nos temos de categorizar que me cria bulimia nervosa.
Eu diria que não só mas também que o verdadeiro problema desta sociedade reside substancialmente no facto de pensarmos que temos um problema grave. Talvez, se a nudez virasse moda rotineira, jamais olhariam para mim com desprezo sempre que trago aquele casaco mais estranho, talvez se achássemos que o problema era ilusório como aquela teoria de que tudo é uma ilusão, rir-nos-íamos dele e; fazendo troça de tais expectativas artísticas humanas, venceríamos a dor do medo que se esconde no ânus do Homem.
E agora, acabo o texto com um desabafo; Ide todos com o caralho, Ámen.
Às vezes, do púlpito do pensamento fugaz, desejaria viver naquela realidade por mais um segundo, e, num piscar de olhos, encontrar outro sítio e outras gentes. Quantas foram eternas as vezes em que me rolei em certas coisas esperando que fossem um fim em si mesmas, de quantas foram falhanços que me colocaram no abismo. E, agora, que me perdi nas palavras, já nem elas me salvam, como se o meu dia fosse todo ele feito de árduos esforços a falar comigo mesma e a tentar encontrar as palavras certas que encaixam naquilo que sinto embora toda, tanta o eu que fala comigo e aquele que não, sente o mesmo…ai! é esta rebuscada maneira que nos temos de categorizar que me cria bulimia nervosa.
Eu diria que não só mas também que o verdadeiro problema desta sociedade reside substancialmente no facto de pensarmos que temos um problema grave. Talvez, se a nudez virasse moda rotineira, jamais olhariam para mim com desprezo sempre que trago aquele casaco mais estranho, talvez se achássemos que o problema era ilusório como aquela teoria de que tudo é uma ilusão, rir-nos-íamos dele e; fazendo troça de tais expectativas artísticas humanas, venceríamos a dor do medo que se esconde no ânus do Homem.
E agora, acabo o texto com um desabafo; Ide todos com o caralho, Ámen.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
O processamento do som da tua voz foi engolido pela garganta da alma, hoje, e mais do que nunca, o sabor que deixaste disseminado por toda a minha boca foi feliz, jamais senti um cheiro podre vindo de alma. Amo-te no mais verdadeiro e ínfimo pormenor da palavra, e, em mim reside a natureza da certeza que em todos os graus a preencheria; não tenho culpa, porém, de, nas vinte e quatro horas de hoje, ter vivido com a intensidade que sempre desejei. Senti-me tantas vezes envergonhada de ter exagerado nos meus apetites, como se a fome pudesse ser alimentada do mesmo que é a gula, e, não esquecendo que da fome não deriva necessariamente a imagem alusiva a um pecado mortal, para mim, foi mais a ingenuidade que me matou. Começou levemente pelas partes mais íntimas do meu ser, interferindo na base de todos os sistemas possíveis. Sinto-me completamente desarmada a toda esta revolução espiritual que a felicidade provoca.
Os meus tímpanos agradeceram toda aquela sonoridade deliciosa carregada de amor e tom de macho incrível que me mexe no fosso do sexo elevando-me a um estado superior de leveza e tranquilidade, já para não falar do prazer que tudo isto me provoca. Todas as palavras ressoam como o tocar de um sino numa aldeia de dez habitantes, todas elas entram uma por uma com o mesmo valor intrínseco inquestionável, toda a gente sabe que o sino tocou e toda a gente se lembra do seu toque; eu lembro-me do teu, como se fosse hoje, também não foi há muito tempo, é verdade, mas se ao amor platónico se juntasse o físico, tenho a certeza que teria sido há muito menos; és brilhante, e para além disso tudo, como se não bastasse, és perfeito, no teu conjunto todo, és lindo, absolutamente genial. Obrigada.
Os meus tímpanos agradeceram toda aquela sonoridade deliciosa carregada de amor e tom de macho incrível que me mexe no fosso do sexo elevando-me a um estado superior de leveza e tranquilidade, já para não falar do prazer que tudo isto me provoca. Todas as palavras ressoam como o tocar de um sino numa aldeia de dez habitantes, todas elas entram uma por uma com o mesmo valor intrínseco inquestionável, toda a gente sabe que o sino tocou e toda a gente se lembra do seu toque; eu lembro-me do teu, como se fosse hoje, também não foi há muito tempo, é verdade, mas se ao amor platónico se juntasse o físico, tenho a certeza que teria sido há muito menos; és brilhante, e para além disso tudo, como se não bastasse, és perfeito, no teu conjunto todo, és lindo, absolutamente genial. Obrigada.
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Pouso devagar as chaves sobre a mesa, entro a espumar da boca mas limpo-a rapidamente e recomponho-me para uma entrada casual, estando a ferver por dentro e até mesmo por fora, limpo-me apressadamente e cheiro o meu casaco e t-shirt na ânsia acesa da ausência de um cheiro não familiar, descubro que não sei se sei distinguir a memória do cheiro físico na realidade, eu sinto-o, sinto-o em todo o lado, no chão, nas paredes, no vento, no mar, na roupa, por dentro, por detrás de tudo consigo snifar aquele aroma a macho, mas um macho que me cativa, que me enlouquece, que me mexe nos confins do meu corpo nauseabundo a desejo.
Aquele frio estupendo na barriga foi substituído por um ardor incontornável, queimava por dentro, ardia lentamente todas as células outrora mortas do meu corpo, não dói, mas vem à boca um sabor irredutível a felicidade, uma saliva pura com uma adrenalina excitante e inacreditável, julguei ter uma montanha russa na cabeça, algures, naquele sitio onde se pensa com o coração. E, com algum receio de me ter entregado mais do que aquilo que devia, saboreio a maça suculenta na minha boca, arrepiando-me pelo barulho que provoca nos meus dentes, sentindo ainda um vento frio na espinha, como se ainda fosse um depósito de toda aquela excitação. A raça humana é pequena demais, vejam só, como momentos excitação podem fazer mudar por instantes a ideia que se tem do grau de satisfação em que nos encontramos, reparem como os mesmos olhos que vêm toda a desgraça, sentem todo o prazer esquecendo tudo o que ficou para trás…e fossem os meus lembrarem-se de alguma coisa, ontem….
Amanhã, o ontem partirá para bem longe de mim, lá para os confins do mundo, para aquela linha imaginária onde ficam todos os sonhos e dias realizáveis, e eu que pensara que esse dia não viria nunca mais, enganei-me redondamente, sabendo que no fundo queimava em algum órgão um desejo impune de cometer o perdido erro de me querer enganar a mim própria que alguma coisa que verdadeiramente desejei sem desejar aconteceria.
Atiro-me para a cama, a minha cama afinal, aquela que sempre invejei e repudiei ao mesmo tempo, tão sóbria, tão só, incompleta, mas aconchegante, sempre dá para aquecer o corpo e faze-lo descansar para outro dia inglorioso, no fim de contas, eles estão de volta, em força, para me atirarem para dentro de um buraco profundo, cheio de vácuo e coisa nenhuma, do mesmo material de que é feito um coração que conheci.
Aquele frio estupendo na barriga foi substituído por um ardor incontornável, queimava por dentro, ardia lentamente todas as células outrora mortas do meu corpo, não dói, mas vem à boca um sabor irredutível a felicidade, uma saliva pura com uma adrenalina excitante e inacreditável, julguei ter uma montanha russa na cabeça, algures, naquele sitio onde se pensa com o coração. E, com algum receio de me ter entregado mais do que aquilo que devia, saboreio a maça suculenta na minha boca, arrepiando-me pelo barulho que provoca nos meus dentes, sentindo ainda um vento frio na espinha, como se ainda fosse um depósito de toda aquela excitação. A raça humana é pequena demais, vejam só, como momentos excitação podem fazer mudar por instantes a ideia que se tem do grau de satisfação em que nos encontramos, reparem como os mesmos olhos que vêm toda a desgraça, sentem todo o prazer esquecendo tudo o que ficou para trás…e fossem os meus lembrarem-se de alguma coisa, ontem….
Amanhã, o ontem partirá para bem longe de mim, lá para os confins do mundo, para aquela linha imaginária onde ficam todos os sonhos e dias realizáveis, e eu que pensara que esse dia não viria nunca mais, enganei-me redondamente, sabendo que no fundo queimava em algum órgão um desejo impune de cometer o perdido erro de me querer enganar a mim própria que alguma coisa que verdadeiramente desejei sem desejar aconteceria.
Atiro-me para a cama, a minha cama afinal, aquela que sempre invejei e repudiei ao mesmo tempo, tão sóbria, tão só, incompleta, mas aconchegante, sempre dá para aquecer o corpo e faze-lo descansar para outro dia inglorioso, no fim de contas, eles estão de volta, em força, para me atirarem para dentro de um buraco profundo, cheio de vácuo e coisa nenhuma, do mesmo material de que é feito um coração que conheci.
domingo, 31 de agosto de 2008
Sou vítima de uma gravidez ambulante, de um cancro no colo do útero que se propaga pelo sangue chegando aos vasos capilares mais requintados e por sua vez mais discretos como se esses fossem o FBI num caso de extrema segurança e privação, em que não pudessem ser vistos e nem deus pudesse salvaguarda-los por nem sequer constarem na lista de mortais; o cancro vai morrer quando eu morrer, é uma vitória do corpo, um descanso da vida, e uma libertação da alma aprisionada ao corpo que não escolheu. Não parto sozinha em vão, mas acabo por matar toda a saudade que aquelas dores e coisas na barriga me deixaram. Parto, prenha por essa rua fora, grávida de ti, do mundo, de todas as palavras que engoli sem querer, como se me entalasse com um gole de água oferecido por uma pessoa que me despreza, vislumbro olhares que me olham fazendo o percurso com a íris dos meus pés à cabeça, parando nos meus olhos, observando de perto a minha expressão mais adulta e vislumbrando a barriga que não quer crescer.
Acabei por ter o meu filho há alguns dias atrás, vi-o nascer e florescer, cheguei a tocar-lhe no umbigo e decorei algures na minha memória, aqueles calções verdes, aquela barreira da distância e do amor que fazem para sempre paralelas no meu caminho. Aprendi, também que mentir é o melhor caminho para aqueles que não nos deixam respirar, a liberdade começa a ganhar a sua própria independência à medida que o segredo envelhece e se torna maduro, ganha forma e sai à rua ao lado do meu porta-moedas dentro da mala robusta comprada naquela festa na qual vivemos momentos felizes.
Para sempre serei um mártir daquilo que fui, está escrito em algum lado que jamais chegarei ao cimo sem que a escada anterior não me pareça insana, e não é que nunca me tenha envergonhado dos meus apetites, é só que à medida que a maçã vai sendo digerida na boca virgem, o segundo pedaço a trincar pesará sempre menos na consciência é tal e qual como a guerra mundial que começa numa briga de irmãos, uma briga de infância, uma disputa por um brinquedo, vai evoluindo com as idades, passa por uma briga de adolescentes, atinge a maioridade, dois adultos que disputam questões monetárias, passam pelos números ordinais e acrescentam gentes às pequenas batalhas, os números vão subindo a uma velocidade louca ate que envolve uma grande guerra com todas as gentes do mundo e mais algumas, por assuntos das quais as origens já não são bem recordadas e acabam por encher todos os jardins nutridos a carne podre e em decomposição com ossos à mistura de almas despedaçadas e corpos sem vida. E, depois, há sempre alguém muito gentil, que acha que não tem culpa no cartório e esculpe na pedra um doloroso e sentido “R.I.P” como se a última palavra fizesse qualquer buraco branco nas mentes guerrilheiras, o pior, é que a paz não é um morto que não sente, é um vivo que descansa.
E o amor só poderia explodir em mim desta forma, visto que eu nunca fui muito com ele no seu estado natural, faz-me um certo tipo de alergia, porque quase sempre me provoca dor de terceiro grau aguda, mas naqueles dias, misturou um sabor intenso a morango e maracujá na boca da maça vermelha que fez com que nutrisse um líquido alaranjado chamado felicidade, com um ponto alto de ebulição que fazia o sangue ferver e as veias corromperem, e o coração esse impiedoso ilusório batia como se não houvesse amanha, numa folia e adrenalina invejáveis…oh meu deus (seja lá quem fores) eu fui feliz!
Acabei por ter o meu filho há alguns dias atrás, vi-o nascer e florescer, cheguei a tocar-lhe no umbigo e decorei algures na minha memória, aqueles calções verdes, aquela barreira da distância e do amor que fazem para sempre paralelas no meu caminho. Aprendi, também que mentir é o melhor caminho para aqueles que não nos deixam respirar, a liberdade começa a ganhar a sua própria independência à medida que o segredo envelhece e se torna maduro, ganha forma e sai à rua ao lado do meu porta-moedas dentro da mala robusta comprada naquela festa na qual vivemos momentos felizes.
Para sempre serei um mártir daquilo que fui, está escrito em algum lado que jamais chegarei ao cimo sem que a escada anterior não me pareça insana, e não é que nunca me tenha envergonhado dos meus apetites, é só que à medida que a maçã vai sendo digerida na boca virgem, o segundo pedaço a trincar pesará sempre menos na consciência é tal e qual como a guerra mundial que começa numa briga de irmãos, uma briga de infância, uma disputa por um brinquedo, vai evoluindo com as idades, passa por uma briga de adolescentes, atinge a maioridade, dois adultos que disputam questões monetárias, passam pelos números ordinais e acrescentam gentes às pequenas batalhas, os números vão subindo a uma velocidade louca ate que envolve uma grande guerra com todas as gentes do mundo e mais algumas, por assuntos das quais as origens já não são bem recordadas e acabam por encher todos os jardins nutridos a carne podre e em decomposição com ossos à mistura de almas despedaçadas e corpos sem vida. E, depois, há sempre alguém muito gentil, que acha que não tem culpa no cartório e esculpe na pedra um doloroso e sentido “R.I.P” como se a última palavra fizesse qualquer buraco branco nas mentes guerrilheiras, o pior, é que a paz não é um morto que não sente, é um vivo que descansa.
E o amor só poderia explodir em mim desta forma, visto que eu nunca fui muito com ele no seu estado natural, faz-me um certo tipo de alergia, porque quase sempre me provoca dor de terceiro grau aguda, mas naqueles dias, misturou um sabor intenso a morango e maracujá na boca da maça vermelha que fez com que nutrisse um líquido alaranjado chamado felicidade, com um ponto alto de ebulição que fazia o sangue ferver e as veias corromperem, e o coração esse impiedoso ilusório batia como se não houvesse amanha, numa folia e adrenalina invejáveis…oh meu deus (seja lá quem fores) eu fui feliz!
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Amanha
Morri há alguns anos atrás e perdi peças do presente, as do futuro nunca chegaram a vir, e as do passado estão tão bem encaixadas que jamais serão tocadas, como se as coisas ficassem para sempre tal como acabaram, e agora que me encontrei durante este tempo todo, morri, para todos os dias acordar e reflectir que hoje é só um dia a mais do que ontem, e que tudo estará de volta ao seu ciclo vicioso do abismo inegável.
Renasci porque amanhã será um dia diferente, porque os deuses devotos deste mundo perceberam que havia qualquer coisa pendente na minha pessoa, e não era na minha vida porque essa certamente já se perdeu por esses recantos, o dia depois de hoje trará de volta um novo ar e conhecerei, ao mesmo tempo que sinto dois braços enrolados a mim, um novo eu, sem esquecer tudo o que fui, parto para uma viagem espiritual, não saindo do sítio, apenas ganhando a medalha de uma vida de luto parada no meu altar e vai ser o mesmo em que nos vamos casar em nome de um deus qualquer que estará entre nós dois, atrás e à frente e dos lados, nunca se sabe…Casamo-nos quando quisermos, mas hoje, hoje já não dá…
Renasci porque amanhã será um dia diferente, porque os deuses devotos deste mundo perceberam que havia qualquer coisa pendente na minha pessoa, e não era na minha vida porque essa certamente já se perdeu por esses recantos, o dia depois de hoje trará de volta um novo ar e conhecerei, ao mesmo tempo que sinto dois braços enrolados a mim, um novo eu, sem esquecer tudo o que fui, parto para uma viagem espiritual, não saindo do sítio, apenas ganhando a medalha de uma vida de luto parada no meu altar e vai ser o mesmo em que nos vamos casar em nome de um deus qualquer que estará entre nós dois, atrás e à frente e dos lados, nunca se sabe…Casamo-nos quando quisermos, mas hoje, hoje já não dá…
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
"The Killer is me"
Vislumbrei por entre a vitrina da loja a embalagem de comprimidos milagrosos, era redonda e pequena, mas cheia, muito cheia por dentro, a abarrotar de efeitos secundários e de desígnios menos dignos e colorida, como se também os olhos pudessem tomar a dose necessária e viajarem para outra dimensão e talvez permanecer por lá em férias prolongadas até à eternidade, estava só, meia escondida por detrás de todas as outras caixas de medicamentos para a vida, que perda de tempo!, atrasar a morte é algo deveras grotesco , e muito típico do ser humano que cisma em atrasar tudo o que o tempo não pode vir a realizar mais tarde.
Olhei mais de perto para poder enviar ao meu cérebro o número exacto da quantia que tinha de cobrar para ser feliz, disfarcei como se tivesse também a olhar para outro preço, não vá a sociedade recriminar-me agora por ter uma pequena e inútil curiosidade, e de repente senti um” não” a percorrer-me cada vaso capilar, não o posso comprar, demasiado caro, e nem sei se algum dia conseguirei dar-lhes uso. Agora, preferia não ter visto nada, ter-me deitado a dormir e imaginar que estava onde eu queria estar, teria sido tudo tão mais fácil, teria sido tudo tão menos doloroso, mas há sempre retalhos que me obrigam a caminhar descalça pelo caminho mais longo, e desgastam-me os músculos e a mente, preciso de descanso, um terno descanso.
Se alguém disse que as férias são milagrosas, enganou-se redondamente; as férias não são mais que um fardo, um prolongamento do tempo que temos a sós, uma solidão tremenda entre a alma e o corpo que nos obriga a pensar em perguntas sem resposta e a deixar trespassar a tristeza compulsiva, há que ter sempre algo de baixo da manga e realizar sem qualquer pudor, tentando desligar os pensamentos insanos sobre a vida e as coisas, eu tentei, juro que sim, mas quanto mais tento, mais falho por simplesmente saber que o único objectivo destas tristes tentativas é mais uma tentativa de me deixar menos mal em relação a tudo. E se ao menos tudo fosse igual a ti, limpo e forte, insano mas verdadeiro em todos os ínfimos pensamentos, o mundo seria o paraíso e deixaria saudades. As coisas não tardam nada a voltar ao berço, a verdadeira avalanche ainda está para vir.
Olhei mais de perto para poder enviar ao meu cérebro o número exacto da quantia que tinha de cobrar para ser feliz, disfarcei como se tivesse também a olhar para outro preço, não vá a sociedade recriminar-me agora por ter uma pequena e inútil curiosidade, e de repente senti um” não” a percorrer-me cada vaso capilar, não o posso comprar, demasiado caro, e nem sei se algum dia conseguirei dar-lhes uso. Agora, preferia não ter visto nada, ter-me deitado a dormir e imaginar que estava onde eu queria estar, teria sido tudo tão mais fácil, teria sido tudo tão menos doloroso, mas há sempre retalhos que me obrigam a caminhar descalça pelo caminho mais longo, e desgastam-me os músculos e a mente, preciso de descanso, um terno descanso.
Se alguém disse que as férias são milagrosas, enganou-se redondamente; as férias não são mais que um fardo, um prolongamento do tempo que temos a sós, uma solidão tremenda entre a alma e o corpo que nos obriga a pensar em perguntas sem resposta e a deixar trespassar a tristeza compulsiva, há que ter sempre algo de baixo da manga e realizar sem qualquer pudor, tentando desligar os pensamentos insanos sobre a vida e as coisas, eu tentei, juro que sim, mas quanto mais tento, mais falho por simplesmente saber que o único objectivo destas tristes tentativas é mais uma tentativa de me deixar menos mal em relação a tudo. E se ao menos tudo fosse igual a ti, limpo e forte, insano mas verdadeiro em todos os ínfimos pensamentos, o mundo seria o paraíso e deixaria saudades. As coisas não tardam nada a voltar ao berço, a verdadeira avalanche ainda está para vir.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
S.D.
Algumas camadas interiores começam a florescer, rasgando-se da pele queimada dos dias quentes, elas vieram ao de cima como o barco que se afundou e jamais será recuperado, adormecido no fundo do útero marino, guardando memórias mergulhadas no sal, temperadas ao sabor do vento, remexidas pelos peixes que fazem a distorção relativa à medida que os ponteiros do relógio percorrem lentamente o percurso infinito. Estou a envelhecer, é verdade! Sobressaem ainda alguns poros rotos, outros escondem nos cantos inimagináveis pedaços de lágrimas que não secaram. Tudo volta, porque tudo merece ter uma segunda hipótese, e eu decidi dá-la ao amor, se bem que não fui completamente imparcial, deixei-me levar na corrente até que o vento me trouxe ares novos e tão antigos que eu já conhecia.
Senti levemente no fundo da alma o sopro que guarda consigo o cheiro do maior dos maiores dos sentimentos, senti aquele calor apoderar-se do frio que presenciou desde então, e ouvi as minhas cordas vocais a tentarem pronunciar um breve orgasmo e ao mesmo tempo a memória e a dignidade a travarem-no, calando-o e fazendo-o perder-se no silêncio da noite.
Ontem o vento trouxe-me de volta aquele som que deixei por soltar, o meu corpo rendeu-se ao sentimento hegemónico que estourava como bombas nucleares no meu peito e acordava as hormonas habituadas ao descanso para a dança, a dança da vida. Acho que estou doente, mais doente que da última vez, só não sei como lidar com isto, se na primeira vez falhei redondamente tudo o que nunca deveria ter feito, deixo-me sentada numa cadeira, à espera que a batalha termine, e que um dia possa já ter vencido a guerra, de uma dor incontornável que foste.
Dentro de mim volta a crescer aquela florzinha chamada esperança, que faz cócegas na garganta e frio na barriga, as células viajam agora na primavera do meu ser, de sorriso na boca, e de olhar completo e vivido, como um gosto doce na boca, caminham pela estrada, como se no fundo lhes esperasse um belo homem com uma t-shirt de um desenho animado da rua Sésamo.
Senti levemente no fundo da alma o sopro que guarda consigo o cheiro do maior dos maiores dos sentimentos, senti aquele calor apoderar-se do frio que presenciou desde então, e ouvi as minhas cordas vocais a tentarem pronunciar um breve orgasmo e ao mesmo tempo a memória e a dignidade a travarem-no, calando-o e fazendo-o perder-se no silêncio da noite.
Ontem o vento trouxe-me de volta aquele som que deixei por soltar, o meu corpo rendeu-se ao sentimento hegemónico que estourava como bombas nucleares no meu peito e acordava as hormonas habituadas ao descanso para a dança, a dança da vida. Acho que estou doente, mais doente que da última vez, só não sei como lidar com isto, se na primeira vez falhei redondamente tudo o que nunca deveria ter feito, deixo-me sentada numa cadeira, à espera que a batalha termine, e que um dia possa já ter vencido a guerra, de uma dor incontornável que foste.
Dentro de mim volta a crescer aquela florzinha chamada esperança, que faz cócegas na garganta e frio na barriga, as células viajam agora na primavera do meu ser, de sorriso na boca, e de olhar completo e vivido, como um gosto doce na boca, caminham pela estrada, como se no fundo lhes esperasse um belo homem com uma t-shirt de um desenho animado da rua Sésamo.
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Espera impotente
Por entre os espinhos das rosas murchas floresce o micróbio da dor, uma doença que se alastra por tudo o que é belo e virgem, por entre os pinhais de natureza inocente, por entre os campos com sementes prontas a florir, esperando pela primavera para que tudo posso fazer da sua voz palavras que dançam ao som do vento até chegarem ao céu e perderem-se na imensidão do universo, esperando um dia serem recordadas por alguém, como se algo ficasse eterno no coração dos que morrem, como se algo jamais pudesse ser feito alimento dos insectos que rasgam a carne flácida do que outrora foi vivo e colorido, e até mesmo nos dias mais cinzentos, e na dor mais aguda, resistiam à vida, porque à morte não se resiste.
É tudo uma espera impotente, uma espécie de sala acalorada pela impaciência humana, onde os seres vivos combatem contra o tempo, que sempre que é preciso está a descansar no leito do mundo. E é impotente porque a paz não a abraça na hora da despedida, é uma guerra incessante, são batalhas que perduram todas as vidas de quantas mortes já sucederam, não há vencedores nem vencidos, é uma guerra incapaz e débil assim como toda a carne no mundo.
Um dia, vou sentir falta do que não vivi, e nesse dia, tudo irá ser tarde demais. É por isso que aqui estou, para sentir na minha pele que se queima com o calor do sol, a dor do que já não pode voltar mais, de erros irremediáveis, de problemas irredutíveis de respirares incansáveis e tentativas falhadas de manter o barco em equilíbrio neste oceano sóbrio.
Vejo dor naquela rosa que me deste, vejo dor em todo o lado para dizer a verdade, salpicos de água choca, e vejo mosquitos a picaram as pétalas que ofuscam os olhares, vejo uma cama e um quarto fechado, paredes a gritarem no silencio, a roupa a chorar lágrimas de pânico pelo corpo que ousaram abraçar, um espelho que se parte a cada reflexo, uma janela inatingível, uma escada rota, terra molhada, pedras de cimento, letras hipócritas, memorias enterradas, insectos saciados, um portão, um sino de uma igreja, um olhar seco e … um ramo de alecrim pousado sobre a pedra…
É tudo uma espera impotente, uma espécie de sala acalorada pela impaciência humana, onde os seres vivos combatem contra o tempo, que sempre que é preciso está a descansar no leito do mundo. E é impotente porque a paz não a abraça na hora da despedida, é uma guerra incessante, são batalhas que perduram todas as vidas de quantas mortes já sucederam, não há vencedores nem vencidos, é uma guerra incapaz e débil assim como toda a carne no mundo.
Um dia, vou sentir falta do que não vivi, e nesse dia, tudo irá ser tarde demais. É por isso que aqui estou, para sentir na minha pele que se queima com o calor do sol, a dor do que já não pode voltar mais, de erros irremediáveis, de problemas irredutíveis de respirares incansáveis e tentativas falhadas de manter o barco em equilíbrio neste oceano sóbrio.
Vejo dor naquela rosa que me deste, vejo dor em todo o lado para dizer a verdade, salpicos de água choca, e vejo mosquitos a picaram as pétalas que ofuscam os olhares, vejo uma cama e um quarto fechado, paredes a gritarem no silencio, a roupa a chorar lágrimas de pânico pelo corpo que ousaram abraçar, um espelho que se parte a cada reflexo, uma janela inatingível, uma escada rota, terra molhada, pedras de cimento, letras hipócritas, memorias enterradas, insectos saciados, um portão, um sino de uma igreja, um olhar seco e … um ramo de alecrim pousado sobre a pedra…
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Queimei-me de tantas vezes vislumbrar o céu, aquele paraíso terreno que jamais será esquecido, para mim, é a única coisa que nunca nos abandona, estará sempre por cima de nós a segredar-nos o vasto território de que um dia, por mero acaso, ousaremos ocupar sem fronteiras nem limites, ousaremos desvirginar tais terras, ocupando-as com todas as minhas colecções de postais de entes queridos, memórias rasgadas ao relento, guardadas como múmias no cofre que há em mim, respirarei o ar inculto e dormirei num descanso inocente para um tempo indeterminado.
Sonhei um dia, engolir tudo isto apenas com um clique, um desligar da máquina defeituosa que me mantém viva, mas acordei no momento em que desfrutava de um reconhecimento árduo do que fui submetida a sobreviver, o sol dilatou-me as pupilas novamente, como se a maior alegria jazesse no coração daquele astro em chamas, que se ria da figura dos homens que diziam um dia o hidrogénio acabar, acabando por ser eles os únicos com data de entrada e saída marcadas, e olha que até é uma estadia efémera…
Pedi ao mundo e aos céus que me trouxessem um dia novo, um dia que estava eu já farta de o reinventar como se sempre que o imaginava, algo me dizia que era novo, novo em folha, a estrear, mas nessa altura, já eu tinha estreado o dia tantas vezes quantas horas o mundo tem, de qualquer forma, a minha inocente mente sabia que o dia nunca viria, por isso é que era jovem, porque nunca nasceu, porque nunca veio num dia de primavera junto com as andorinhas, nunca chegaram a rebentar flores, muito menos frutos, e o sonho dói levantando voo como um balão que uma criança se descuidou e largou-o, escorregou-se por entre os poros da minha pele, e as lágrimas sempre a vê-lo de longe e fugir, e molhavam-se ainda mais, ainda hoje consigo pegar na memória do sonho amarelo que vi fugir, vejo-o sorrir maleficamente batendo numa nuvem, sorrindo…e sorrindo. A sorrir ficou a minha alma, depois que os poros aumentaram de tamanho, houve espaço para a raiva entrar, e a fúria misturou-se e as memórias foram guardadas numa gaveta de fechadura fortíssima, com um título bem legível “perigo de morte”, e eu não mexo nelas, tenho medo…
E foi ao diminuir a minha capacidade de armazenamento mental, que tentei que esse quarto fechado não constasse tão cedo na minha lista de divisões, para que pudesse viver com dignidade o primeiro dia do resto da minha vida.
Sonhei um dia, engolir tudo isto apenas com um clique, um desligar da máquina defeituosa que me mantém viva, mas acordei no momento em que desfrutava de um reconhecimento árduo do que fui submetida a sobreviver, o sol dilatou-me as pupilas novamente, como se a maior alegria jazesse no coração daquele astro em chamas, que se ria da figura dos homens que diziam um dia o hidrogénio acabar, acabando por ser eles os únicos com data de entrada e saída marcadas, e olha que até é uma estadia efémera…
Pedi ao mundo e aos céus que me trouxessem um dia novo, um dia que estava eu já farta de o reinventar como se sempre que o imaginava, algo me dizia que era novo, novo em folha, a estrear, mas nessa altura, já eu tinha estreado o dia tantas vezes quantas horas o mundo tem, de qualquer forma, a minha inocente mente sabia que o dia nunca viria, por isso é que era jovem, porque nunca nasceu, porque nunca veio num dia de primavera junto com as andorinhas, nunca chegaram a rebentar flores, muito menos frutos, e o sonho dói levantando voo como um balão que uma criança se descuidou e largou-o, escorregou-se por entre os poros da minha pele, e as lágrimas sempre a vê-lo de longe e fugir, e molhavam-se ainda mais, ainda hoje consigo pegar na memória do sonho amarelo que vi fugir, vejo-o sorrir maleficamente batendo numa nuvem, sorrindo…e sorrindo. A sorrir ficou a minha alma, depois que os poros aumentaram de tamanho, houve espaço para a raiva entrar, e a fúria misturou-se e as memórias foram guardadas numa gaveta de fechadura fortíssima, com um título bem legível “perigo de morte”, e eu não mexo nelas, tenho medo…
E foi ao diminuir a minha capacidade de armazenamento mental, que tentei que esse quarto fechado não constasse tão cedo na minha lista de divisões, para que pudesse viver com dignidade o primeiro dia do resto da minha vida.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Não sei por quanto mais tempo consegue o meu organismo aguentar, de todas as forças que tenho gastei as psicológicas até ao mais ínfimo grão de energia, e agora, como eu gostaria de segurar a dor física do nervosismo que se acumula nos bunkers das traves sanguíneas que escorrem com o movimento circular do tempo, não me resta qualquer felicidade platónica que me sustente como uma corda com dois lados, que se arrasta com a força humana para um e para outro, vai rebentar, ela vai rebentar …Mas eu não sei, não sei quando tudo isto irá parar, não me resta qualquer esperança do troco que deixaste, nem qualquer ânimo, já nenhum Deus aguenta as minhas preces, como se eu as aguentasse! … Tentei ofuscar o meu olhar quando subi alguns graus a cabeça para me deparar com o esplendor que me sustentava, mas o pescoço estava enferrujado e a cabeça mais pesada que bigornas, ceguei-me de tanta beleza que me agoniei e dentro da minha boca junto do meu hálito pútrido a vontade de sumir, nasceu a azia doce e inocente, como se algo nascesse por prazer, mas não nasce, porque ninguém pede para vir ver de cá de baixo tudo isto, e pensar que poderia ter ficado no leito das nuvens para sempre a saborear a dor que me livrei de sentir, não sentia de qualquer forma, não havia prazer mas também não havia pingo de dor, de angústia, de saudade, antes não sentir! ... e pensar isso, revolta, não ajuda.
De qualquer das formas sempre fui muito fraca, e foi por isso que a vida decidiu testar-me a todo o segundo, para fortificar-me…mas para quê? Para um dia despedir-me do mundo sem ter tempo para dizer adeus, a menos que a medicina me informe que tenho um mês de vida, ou até menos, a menos que consiga viver tantas e quantas vidas precisarei para me conseguir despedir de tudo, porque até a dor deixa saudade aos que sentem, sempre que a dor aumenta, a diminuta deixa ansiedade que algum dia volte, porque dessa já estamos imunes, como se a dor também não morresse …
Inutilidades descreve o que escrevo, de uma forma fugaz e egoísta tudo o que escrevo serve para meu próprio consolo, e se nem eu, que cuido de mim todos os dias, consigo satisfazer-me mais ninguém ousará dizer-me que me ama, e que o pode fazer, porque eu…eu nunca soube o que quis. Tenho uma pancada forte num sítio obscuro do cérebro que teima em obstruir-me passagens de novelas maravilhosas na linha do tempo que se desfigura na minha mão.
Esquecer.
De qualquer das formas sempre fui muito fraca, e foi por isso que a vida decidiu testar-me a todo o segundo, para fortificar-me…mas para quê? Para um dia despedir-me do mundo sem ter tempo para dizer adeus, a menos que a medicina me informe que tenho um mês de vida, ou até menos, a menos que consiga viver tantas e quantas vidas precisarei para me conseguir despedir de tudo, porque até a dor deixa saudade aos que sentem, sempre que a dor aumenta, a diminuta deixa ansiedade que algum dia volte, porque dessa já estamos imunes, como se a dor também não morresse …
Inutilidades descreve o que escrevo, de uma forma fugaz e egoísta tudo o que escrevo serve para meu próprio consolo, e se nem eu, que cuido de mim todos os dias, consigo satisfazer-me mais ninguém ousará dizer-me que me ama, e que o pode fazer, porque eu…eu nunca soube o que quis. Tenho uma pancada forte num sítio obscuro do cérebro que teima em obstruir-me passagens de novelas maravilhosas na linha do tempo que se desfigura na minha mão.
Esquecer.
sábado, 5 de julho de 2008
Alimentei com purpurinas o fundo do poço que há dentro de mim, embelezei-o com as melhores e as mais bonitas que encontrei para me convencer de que nada disso me servia. Continuavam a nascer ervas daninhas e a florescer um cheiro a vómito repugnante, persistiam vozes que teimam em não silenciar-se misturadas com o seu eco de todos os dias, parecem palavras com asas rotas, descabidas de toda a sua utilização possível, mas mexem comigo, temperam-me as recordações que teimam em acordar comigo de manha misturadas no meu hálito; dirijo-me à casa de banho e vou purificar-me de novo, como se aquela prática não tivesse mais fim, e realmente não tem, o que passou por mim deixou um pouco de si e levou um pouco de mim, enquanto disso restar a perfeita consciência, terei sempre um pedaço amargo do doce mal dissolvido, para me angustiar, para me lembrar que afinal respiro todos os dias com um propósito maior.
A minha dor é uma escolha pessoal ou veio a partir de uma decisão mal tomada, qualquer das duas hipóteses parecem-me semelhantes, quase como o meu reflexo num vidro, já que nos teus olhos sou uma imagem de alta tensão distorcida e vá lá que os contos de fada ainda existem e que a realidade também se apaixona às vezes…
A minha dor é uma escolha pessoal ou veio a partir de uma decisão mal tomada, qualquer das duas hipóteses parecem-me semelhantes, quase como o meu reflexo num vidro, já que nos teus olhos sou uma imagem de alta tensão distorcida e vá lá que os contos de fada ainda existem e que a realidade também se apaixona às vezes…
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Caminhei pelos quartos fechados, não descobri nada de novo; são homens, pessoas, animais enjaulados por paredes a cair de podres, arruinadas pelo sofrimento psicológico que teima em largar cheiro na vida dos que se desprendem dela como libelinhas que rasgam nuvens. Eu gostava de ser uma libelinha, voar livremente pelo mundo, sem sentir necessidade de, por instantes, me deparar na sua dificuldade de interpretação, jamais daria a importância que dou ao tempo que teima em passar sem trazer boas novas, não te daria importância a ti e com isso também não sentiria saudade, aquela mágoa que parece manteiga num coração queimado pelo Sol, está rachado, as placas tectónicas fazem pressão sobre a caixa torácica, qualquer dia tudo explode, fazemos o big bang ao contrário, e quando de ti e de mim se restar apenas cinzas e pó vamos ser unos e completos, não vais ousar procurar outras cinzas porque todos os teus músculos se reduziram a ínfimos gramas de droga, não me trocarás por nada, já que em mim jaz a certeza de que és tudo o que possuo.
Quem disse que o mundo era bonito, era porque era um turista condenado aos cobertores da morte doce e rápida, ninguém a não ser por interesse se atrevia sequer a pronunciar total beleza onde conjugam e dançam a mesa todo o tipo de sentimentos obscuros e claros dando tonalidades quentes e frias, consoante o espírito e o lugar.
Estamos todos a arder, e um dia vai faltar oxigénio para que se dê a combustão, nesse dia quero-me rir dos felizes, quero vê-los afogarem-se no oceano com todo o dinheiro que conseguiram à custa de outros, porque os verdadeiros felizardos choram lágrimas de cerveja por todo o pouco dinheiro que conquistaram, como se todo o esforço fosse tão mal pago, com pedaços de papel e ferro de desenhos e valores insignificantes impostos por outros tipos não mais do que quaisquer outros. A vida repudia, tudo repudia porque o nosso mundo interior é substancialmente maior que todo o espaço físico possível, e quando não há espaço é impossível que uma alma consiga se desenvolver o suficiente para aguentar com o peso do cinzentismo dos dias às costas. E, quando não se aguenta, tenta-se acreditar em algo maior, para que tenhamos fé de que algum dia tudo isto vá valer a pena.
Quem disse que o mundo era bonito, era porque era um turista condenado aos cobertores da morte doce e rápida, ninguém a não ser por interesse se atrevia sequer a pronunciar total beleza onde conjugam e dançam a mesa todo o tipo de sentimentos obscuros e claros dando tonalidades quentes e frias, consoante o espírito e o lugar.
Estamos todos a arder, e um dia vai faltar oxigénio para que se dê a combustão, nesse dia quero-me rir dos felizes, quero vê-los afogarem-se no oceano com todo o dinheiro que conseguiram à custa de outros, porque os verdadeiros felizardos choram lágrimas de cerveja por todo o pouco dinheiro que conquistaram, como se todo o esforço fosse tão mal pago, com pedaços de papel e ferro de desenhos e valores insignificantes impostos por outros tipos não mais do que quaisquer outros. A vida repudia, tudo repudia porque o nosso mundo interior é substancialmente maior que todo o espaço físico possível, e quando não há espaço é impossível que uma alma consiga se desenvolver o suficiente para aguentar com o peso do cinzentismo dos dias às costas. E, quando não se aguenta, tenta-se acreditar em algo maior, para que tenhamos fé de que algum dia tudo isto vá valer a pena.
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Afoguei-me naquelas águas gaseificadas, cor de Coca-Cola e agora procuro desesperadamente por uma borbulha do gás rarefeito onde possa respirar pedaços de vida, uma procura é aquilo que me define, se sou aquilo que faço, então sou uma busca incessante por algo que nunca chegará aparecer. Porque de gula está o mundo cheio, e eu quis engoli-lo, achei mesmo que conseguia e entalei-me; para minha estranha existência coexistiu grande pancada no corpo e na alma. Há que dar ciclo àquilo que menos queria, há que continuar nesta maré de amores e desamores, o mundo é grande demais para só ter uma cor, mas eu não percebi isso, nunca tinha tentado sequer.
Apetece-me desesperadamente provar tudo, agora que o meu bem seguiu o caminho contrário sem retorno, perdi o medo de errar, se mesmo com ele errei, não sei da vontade, procurei-a por toda a parte e continuo sem realmente importar-me com isso.
Mergulhei-me no copo que bebeste, saíste satisfeito, embora soubesses que jamais me satisfarias, continuavas a deixar um resto para beber no fundo, para que esse perdesse por si todo o gás e que acabasse por desistir de ser bebido. Afinal, sempre conseguiste tudo o que querias, menos eu…Para variar um pouco; saí magoada.
Apetece-me desesperadamente provar tudo, agora que o meu bem seguiu o caminho contrário sem retorno, perdi o medo de errar, se mesmo com ele errei, não sei da vontade, procurei-a por toda a parte e continuo sem realmente importar-me com isso.
Mergulhei-me no copo que bebeste, saíste satisfeito, embora soubesses que jamais me satisfarias, continuavas a deixar um resto para beber no fundo, para que esse perdesse por si todo o gás e que acabasse por desistir de ser bebido. Afinal, sempre conseguiste tudo o que querias, menos eu…Para variar um pouco; saí magoada.
sábado, 28 de junho de 2008
E todas as vezes que o ar se recusa a entrar para ser respirado e sugado, que o sangue anda mais devagar e arrefece, que a temperatura lá fora fica negativa, que tudo à volta fica invisível como se os nossos olhos só pudessem ter foco no medo e no pânico que percorrem o corpo como um rastilho de pólvora, esqueço-me que até consigo falar, pensar, reagir…
O mundo fica logo com outro significado, nunca mais me vou esquecer da minha filosofia de infância nesses momentos, fiquei marcada para toda a eternidade. Porque esse medo sou eu hoje, moldada com deficiências de alma, pequenas partículas que chocam com os valores da normalidade.
Lembro-me de enrolar-me nos cobertores enquanto ouvia o espectáculo gratuito por de trás do ranger e da azáfama de portas e outros objectos, às vezes até eram objectos um pouco maiores com coração e tudo. Nunca percebi como o amor poderia ser festejado desta forma, e ainda mais curioso, nunca cheguei a perceber como é que ele ainda se faz restar no meio do ódio e do rancor. A minha cama era quente, mas nunca o suficiente para me abraçar calorosamente e me fazer esquecer o que os meus ouvidos percebiam e o meu coração consentia. Não tinha irmãos, portanto, não tive mais ninguém para tomar conta, para abraçar nestes momentos e também nunca tive ninguém que me abraçasse e me dissesse que o mundo também tem outras cores. Tive de lutar por mim mesma, até conseguir fazer ver-me isso, pelo menos no sentido teórico, o sol iria aparecer no dia seguinte de qualquer das formas.
Enquanto me encolhia toda, tapava os ouvidos e semicerrava os olhos, sentia alguém maior, acima de mim, a prometer-me um futuro melhor, a mexer-me no cabelo e a garantir-me que tudo ia correr bem, mas ele nunca chegou a vir, sempre esperei na minha cadeira, rodeada dos desenhos fartos do meu pequeno quarto, mas ele nunca me chegou a cumprimentar.
Sinto que a minha vida é como uma passadeira, quanto mais corro, mais depressa vem ao de cima a regularidade de toda ela, quanto mais força faço, mais depressa me sinto entulhada com os ínfimos metros cúbicos a que estou predestinada, cada vez mais sufocante, mais insuportável e só emagreço em alma, porque cada vez me sinto mais farta de sentir, como se os sentimentos não esperassem sair de alguém de forma pura e verdadeira, sair só pelo simples facto de sair, como aquelas mães das classes baixas, a abarrotar de partos e filhos, percentagem numerosa de pobres coitados predestinados ao abismo. Afinal sempre tudo depende da sorte, sempre tudo depende do ventre que se ocupa, a decisão cabe àqueles que estão de fora, cabe ao mundo.
Oh, quero entrar dentro de ti, quero arranjar uma esquina para lá morar, para sempre, quero ser o órgão do qual não possas passar sem, porque contigo, estou bem, estou a salvo. Encontro em ti, todas as tonalidades que quero, jaz em ti o desejo e a acção da palavra. Obrigada. Se me coubessem todas as decisões, já tinha encontrado a felicidade.
O mundo fica logo com outro significado, nunca mais me vou esquecer da minha filosofia de infância nesses momentos, fiquei marcada para toda a eternidade. Porque esse medo sou eu hoje, moldada com deficiências de alma, pequenas partículas que chocam com os valores da normalidade.
Lembro-me de enrolar-me nos cobertores enquanto ouvia o espectáculo gratuito por de trás do ranger e da azáfama de portas e outros objectos, às vezes até eram objectos um pouco maiores com coração e tudo. Nunca percebi como o amor poderia ser festejado desta forma, e ainda mais curioso, nunca cheguei a perceber como é que ele ainda se faz restar no meio do ódio e do rancor. A minha cama era quente, mas nunca o suficiente para me abraçar calorosamente e me fazer esquecer o que os meus ouvidos percebiam e o meu coração consentia. Não tinha irmãos, portanto, não tive mais ninguém para tomar conta, para abraçar nestes momentos e também nunca tive ninguém que me abraçasse e me dissesse que o mundo também tem outras cores. Tive de lutar por mim mesma, até conseguir fazer ver-me isso, pelo menos no sentido teórico, o sol iria aparecer no dia seguinte de qualquer das formas.
Enquanto me encolhia toda, tapava os ouvidos e semicerrava os olhos, sentia alguém maior, acima de mim, a prometer-me um futuro melhor, a mexer-me no cabelo e a garantir-me que tudo ia correr bem, mas ele nunca chegou a vir, sempre esperei na minha cadeira, rodeada dos desenhos fartos do meu pequeno quarto, mas ele nunca me chegou a cumprimentar.
Sinto que a minha vida é como uma passadeira, quanto mais corro, mais depressa vem ao de cima a regularidade de toda ela, quanto mais força faço, mais depressa me sinto entulhada com os ínfimos metros cúbicos a que estou predestinada, cada vez mais sufocante, mais insuportável e só emagreço em alma, porque cada vez me sinto mais farta de sentir, como se os sentimentos não esperassem sair de alguém de forma pura e verdadeira, sair só pelo simples facto de sair, como aquelas mães das classes baixas, a abarrotar de partos e filhos, percentagem numerosa de pobres coitados predestinados ao abismo. Afinal sempre tudo depende da sorte, sempre tudo depende do ventre que se ocupa, a decisão cabe àqueles que estão de fora, cabe ao mundo.
Oh, quero entrar dentro de ti, quero arranjar uma esquina para lá morar, para sempre, quero ser o órgão do qual não possas passar sem, porque contigo, estou bem, estou a salvo. Encontro em ti, todas as tonalidades que quero, jaz em ti o desejo e a acção da palavra. Obrigada. Se me coubessem todas as decisões, já tinha encontrado a felicidade.
terça-feira, 24 de junho de 2008

A repugnância relativamente à prisão incandescente que se tornou o meu quarto, a minha pequena e humilde casa, tem a ver com algo muito maior do que o desejo. E não é que a porta velha de madeira me fizesse cólicas com a sua cor arrojada do verniz velho, nem que as paredes cheias de rachadelas metessem dó, mas cresci sempre com o mesmo espaço. Sinto-me um animal preso na sua gaiola, como aquele pássaro que vi algures já não sei onde. Eu nunca quis escrever nada que se visse, nunca tive intenção de fazer das minhas palavras memórias tipo pontos negros que se encravam na mente esburacando tudo e desconcertando o pouco e único bom senso que percorre a carne, mas sempre me traíram.
Tenho sede do infinito porque quando a minha mão se encher e ficar cheia, tudo o resto será inatingível e incompleto, e as minhas mãos são pequenas, gostava de ser maior, maior que o Sol e que a Lua; quando era criança, acreditava que era maior que as nuvens só porque conseguia olhá-las e admirá-las com sentimentos bonitos e ingénuos, e que nenhuma estrela brilhava mais do que a minha própria existência e que aquele céu imenso falava comigo a qualquer instante e me sussurrava o quão eterna sou para alma dos que passam por mim e do mundo que sente os meus pés a massajarem-lhe as costas. Hoje, acredito ainda mais que essa eternidade é para durar, não fosse eu estar farta da minha existência.
Poderia estender a minha alma, desdobrá-la não esquecendo cada pedacinho de memória fracturada e tentar fazer uma estrada que me levasse até ti, como se todo aquele sofrimento e toda aquela felicidade fossem a chave para algum dia ter aquele dia com sabor a morango e maracujá.
Vim da rua de matar alguém, agora sinto a dor de ter matado alguém de ter sentido amor, e eu sou tão boa de amar, se em mim sentir que todo este sentimento vale a pena…Guardei mais um desejo no baú dos sonhos, pode ser, que um dia, no paraíso, me espere um dia em que te veja a sair do comboio com todas aquelas palavras que me prometeste e que me concretizes o meu eu do passado que morreu e subiu à mais alta torre do inferno, passou a carne em torno da moral e queimou-se. Curiosamente, a parte de mim que sobreviveu continua a viver dum dia que nem sequer sei se passará pelo calendário. É disso que respiro.
Tenho sede do infinito porque quando a minha mão se encher e ficar cheia, tudo o resto será inatingível e incompleto, e as minhas mãos são pequenas, gostava de ser maior, maior que o Sol e que a Lua; quando era criança, acreditava que era maior que as nuvens só porque conseguia olhá-las e admirá-las com sentimentos bonitos e ingénuos, e que nenhuma estrela brilhava mais do que a minha própria existência e que aquele céu imenso falava comigo a qualquer instante e me sussurrava o quão eterna sou para alma dos que passam por mim e do mundo que sente os meus pés a massajarem-lhe as costas. Hoje, acredito ainda mais que essa eternidade é para durar, não fosse eu estar farta da minha existência.
Poderia estender a minha alma, desdobrá-la não esquecendo cada pedacinho de memória fracturada e tentar fazer uma estrada que me levasse até ti, como se todo aquele sofrimento e toda aquela felicidade fossem a chave para algum dia ter aquele dia com sabor a morango e maracujá.
Vim da rua de matar alguém, agora sinto a dor de ter matado alguém de ter sentido amor, e eu sou tão boa de amar, se em mim sentir que todo este sentimento vale a pena…Guardei mais um desejo no baú dos sonhos, pode ser, que um dia, no paraíso, me espere um dia em que te veja a sair do comboio com todas aquelas palavras que me prometeste e que me concretizes o meu eu do passado que morreu e subiu à mais alta torre do inferno, passou a carne em torno da moral e queimou-se. Curiosamente, a parte de mim que sobreviveu continua a viver dum dia que nem sequer sei se passará pelo calendário. É disso que respiro.
segunda-feira, 23 de junho de 2008
Rompe-se o orgasmo em uníssono dos lençóis mergulhados no suor de dois corpos manuseados pelo sentimento; as linhas e as formas fazem da palavra o silêncio que preenche cada poro dos intervenientes, os mortais, bem arranjados por sinal na sua convivência austera e fútil desenham apressadamente os seus destinos, como se a mão fosse o prazer e a dor misturados numa bebida vermelha cor de mel, e não seria a cor certamente, seria o sabor, seria o nada onde os sentidos se misturam pelo clímax das vidas em jogo.
Para eles, seria a morte, também, o mesmo apogeu daquela larga noite para sempre eterna no coração do mundo, no coração da madeira talhada da cama, nos lençóis suados e ressoados de toda aquela azáfama de corpos. Enquanto Deus lhes aguardava um pouco mais acima, conseguiam os cegos olhos visualizarem a divina imagem sobre o pecaminoso acto, jamais seria impensável que um ser humano desejasse outro fim.
A viagem chegava ao fim, não havia entusiasmo para continuar, avistava-se ao longe o porto de chegada, uma paragem coberta de cidades, de pessoas…de vida. E para o mortal qualquer tipo de vida é um medo, não foi para isso que foi predestinado.
E pior do que o silêncio audível é aquele que não se ouve por de trás do corpo, o silêncio solitário incurável de uma vida de penúria, a monotonia das palavras mal pronunciadas, das que saem por prazer e das que não deviam sair, das incontroláveis e das chaves de ouro, das falácias e das mentiras, das perversas às inocentes, das que se conseguem dizer e do que jamais poderá ser dito. E há tantas coisas que eu queria dizer-te, mas não sei como.
Queria escrever em pedaços de papel velho, aquilo que penso sem pensar…palavras rotas, quebradas, memórias distorcidas, lugares sem coordenadas, sonhos pesados, pesados demais, o cinzento de todos os dias, por mais que o Sol brilhe, cada dia, será sempre um dia a mais e toda esta viagem que parece não ter mais fim, sem qualquer orgulho na estadia, e o preço elevado da conta abarrotada de furos que o meu corpo paga a cada segundo, o apreço das responsabilidades que me acompanham à mesa, o descanso da nossa cama que nos abraça no leito que nos tem como uma criança desmedida, onde as lágrimas já não são fúteis e os sentimentos afiados como facas que cortam a carne do animal que nos sacia um dever físico incontornável; o céu coberto por uma noite estrelada que nos tenta desvendar o quão grande somos pela alma que temos, pelo espírito selvagem de uma liberdade singela da natureza virgem; a inocência no seu mais puro toque, com pitadas de sal do mar salgado. A beleza incessante do mundo em conflito com a crueldade da vida. O choque de gerações importunadas pelo peso das consciências marcadas pelo passado faz da esperança uma fonte esgotável e da morte um destino cada vez mais apetecível, uma grande e suculenta maça vermelha pendurada no cimo mais alto da árvore robusta chamada vida.
E alguém lá no fundo disse “Amor e empatia” e a escuridão opaca da esfera giratória cobriu-se de luz num descampado virgem.
Para eles, seria a morte, também, o mesmo apogeu daquela larga noite para sempre eterna no coração do mundo, no coração da madeira talhada da cama, nos lençóis suados e ressoados de toda aquela azáfama de corpos. Enquanto Deus lhes aguardava um pouco mais acima, conseguiam os cegos olhos visualizarem a divina imagem sobre o pecaminoso acto, jamais seria impensável que um ser humano desejasse outro fim.
A viagem chegava ao fim, não havia entusiasmo para continuar, avistava-se ao longe o porto de chegada, uma paragem coberta de cidades, de pessoas…de vida. E para o mortal qualquer tipo de vida é um medo, não foi para isso que foi predestinado.
E pior do que o silêncio audível é aquele que não se ouve por de trás do corpo, o silêncio solitário incurável de uma vida de penúria, a monotonia das palavras mal pronunciadas, das que saem por prazer e das que não deviam sair, das incontroláveis e das chaves de ouro, das falácias e das mentiras, das perversas às inocentes, das que se conseguem dizer e do que jamais poderá ser dito. E há tantas coisas que eu queria dizer-te, mas não sei como.
Queria escrever em pedaços de papel velho, aquilo que penso sem pensar…palavras rotas, quebradas, memórias distorcidas, lugares sem coordenadas, sonhos pesados, pesados demais, o cinzento de todos os dias, por mais que o Sol brilhe, cada dia, será sempre um dia a mais e toda esta viagem que parece não ter mais fim, sem qualquer orgulho na estadia, e o preço elevado da conta abarrotada de furos que o meu corpo paga a cada segundo, o apreço das responsabilidades que me acompanham à mesa, o descanso da nossa cama que nos abraça no leito que nos tem como uma criança desmedida, onde as lágrimas já não são fúteis e os sentimentos afiados como facas que cortam a carne do animal que nos sacia um dever físico incontornável; o céu coberto por uma noite estrelada que nos tenta desvendar o quão grande somos pela alma que temos, pelo espírito selvagem de uma liberdade singela da natureza virgem; a inocência no seu mais puro toque, com pitadas de sal do mar salgado. A beleza incessante do mundo em conflito com a crueldade da vida. O choque de gerações importunadas pelo peso das consciências marcadas pelo passado faz da esperança uma fonte esgotável e da morte um destino cada vez mais apetecível, uma grande e suculenta maça vermelha pendurada no cimo mais alto da árvore robusta chamada vida.
E alguém lá no fundo disse “Amor e empatia” e a escuridão opaca da esfera giratória cobriu-se de luz num descampado virgem.
Subscrever:
Comentários (Atom)
