sábado, 29 de novembro de 2008

“My sweet prince you’re the one”

O silêncio atravessa os meus dentes, mais rápido que a luz, porque agora está tudo escuro; arrepia a sensibilidade forte e ríspida de que os caninos são feitos e esconde-se por detrás das gengivas sangrentas e do espírito que há muito apodreceu no hálito cinzento da rua espessa. A droga atravessou-se na corrente eléctrica do organismo e fez amor com os neurónios do cérebro que se quer desligar. Só queria um minuto de silêncio que fosse, um minuto em que a minha mente não tivesse que ter consciência dele, um minuto de morte, e uma eternidade de vida, e um minuto vulnerável ao qual pudesse acrescentar quantos mais segundos desejasse.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Acabar. Terminar a obra com um respiro metamorfoseado num suspiro suspenso pelo vento que arrastou as lágrimas que deixaste derramadas na pintura do retrato. Prometi que te deixaria por muitíssimo tempo, seja ele quanto for. Vou deixar-te. Acabar. Morrer. Nascer.
O consumismo das palavras é cada vez mais insuportável. Estou ansiosa pela altura em que silêncio vai ser o orgasmo entre as gentes; quantas não vão ser aquelas que se orgulham do som regular e pertinente do dito cujo?! Vão retirar à morte, uma das suas mais ousadas virtudes, que vergonha. E, ainda que os meus apetites linguísticos fossem alargados, ainda que muita da minha carne precisasse de senti-las, jamais perguntaria por elas a ti.
Gastaste com frequência tudo o que de bom havia em mim, e por fim, ainda pediste clemência que a culpada fui eu que te tentei. És um triste e de uma coisa estou certa, tens algures escondido no teu ADN um fim igual ao meu, igual ao de tudo.
Eu preciso de ti, sempre precisei. Estou desesperada. De todas as vezes que piso o chão da rua, não é para respirar liberdade, não é para vislumbrar o céu por entre as nuvens e as casas e o mundo e a atmosfera e sei lá mais o quê, é para completar a rotina, para ser mais uma peça da obra de deus, do quadro inacabado com o ADN igual ao meu; é para me sentir preenchida com objectos, com objectivos, que não fui eu que acabei por defini-los, nem foi a vida, foram outras pessoas que precisaram de mim para conspirar as suas. E bem felizes são os animais. Repletos de inocência a cada poro da sua pele, verdadeiros e sinceros à natureza que os criou, completamente prontos para os seus desígnios, fatalistas e de certo modo imortais. Ninguém sentirá falta da abelha que morreu, porque a seguir, vem outra sacar o pólen da mesma flor. São vários os momentos em que suplico por esta inocência, e, quanto mais me apercebo de que dela poderia ter desfrutado uns anos antes, perdi tempo com complicações da vida. Mais uma vez não fui eu a autora dessas. Mais uma vez não escolhi nada. O controlo em demasia persegue-me, já não bastava o medo comum que afecta qualquer ser humano na flor da idade, já não chegava qualquer súplica normal de que um ser racional está sujeito, mais uma vez saí prejudicada.
Acabar. Morrer. (purgatório) Nascer.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

14 De Novembro de 2008
O plano. Há um plano por baixo de mim, por baixo de todos os meus medos e tormentos. Houve sempre um. Escondido, adormecido ao relento. Quero vivê-lo, como se fosse a estrada que piso e tu, que sempre foste o meu chão, tanto é o ódio que nutro por ti, tanta é a vergonha. Perante toda a minha vida, julguei ter sido abençoada pelos dias em que a maldição não me atacava com austeridade, e, agora que ultrapassei esse período medieval, compreendi. Jamais saborearei ruas como aquela do plano, tenho a certeza que a vida me prepara alguma manha para me fazer arrepender das artimanhas que vou calcando.
Mais do que ser feliz, não quero ser ignorante. Respirar dezasseis anos envolta de cimento mais antigo que me acompanha à medida que o meu espaço vai alargando reduzindo-me cada vez mais à insignificância é absolutamente irrespirável. Não permitirei, por bem, que tudo isto se alargue por mais anos do que aqueles que sonhei. Inalo, com cuidado, todas as palavras fedorentas que me desejas tatuar na cara, mas um dia, um dia vai ser tarde. Um dia, os meus ouvidos vão ganhar a virgindade e fazer um voto casto. Engolirei com cuidado esse pôr-do-sol.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Li nalgum sítio que as pessoas se dividiam em dois caminhos à nascença; uns ficavam condenados à morte e outros eternamente condenados. Não será, certamente, por isso que a tragédia tenha um sabor amargo e singular, quando pronunciada, não obstante, o ser humano reduzidíssimo que é, pensa sempre em grandes escalas quando engole tamanha palavra nos escombros da mente. Eu cometi esse erro, sempre que me imaginava perto de uma linha férrea, sentia tragédia a escorrer dos dedos esquecendo-me, porém, que a verdadeira jazia num pequeno lugar. E que os eternamente condenados teriam – a sempre como poios num passeio urbano. Há que pensar que a vida é um caminho escolhido, mesmo assim, não teria piada alguma pensar que sem possibilidade de protesto a nossa sina tenha sido dita em voz alta num tempo em que os nossos ouvidos não ouviam.
Às vezes, do púlpito do pensamento fugaz, desejaria viver naquela realidade por mais um segundo, e, num piscar de olhos, encontrar outro sítio e outras gentes. Quantas foram eternas as vezes em que me rolei em certas coisas esperando que fossem um fim em si mesmas, de quantas foram falhanços que me colocaram no abismo. E, agora, que me perdi nas palavras, já nem elas me salvam, como se o meu dia fosse todo ele feito de árduos esforços a falar comigo mesma e a tentar encontrar as palavras certas que encaixam naquilo que sinto embora toda, tanta o eu que fala comigo e aquele que não, sente o mesmo…ai! é esta rebuscada maneira que nos temos de categorizar que me cria bulimia nervosa.
Eu diria que não só mas também que o verdadeiro problema desta sociedade reside substancialmente no facto de pensarmos que temos um problema grave. Talvez, se a nudez virasse moda rotineira, jamais olhariam para mim com desprezo sempre que trago aquele casaco mais estranho, talvez se achássemos que o problema era ilusório como aquela teoria de que tudo é uma ilusão, rir-nos-íamos dele e; fazendo troça de tais expectativas artísticas humanas, venceríamos a dor do medo que se esconde no ânus do Homem.
E agora, acabo o texto com um desabafo; Ide todos com o caralho, Ámen.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O processamento do som da tua voz foi engolido pela garganta da alma, hoje, e mais do que nunca, o sabor que deixaste disseminado por toda a minha boca foi feliz, jamais senti um cheiro podre vindo de alma. Amo-te no mais verdadeiro e ínfimo pormenor da palavra, e, em mim reside a natureza da certeza que em todos os graus a preencheria; não tenho culpa, porém, de, nas vinte e quatro horas de hoje, ter vivido com a intensidade que sempre desejei. Senti-me tantas vezes envergonhada de ter exagerado nos meus apetites, como se a fome pudesse ser alimentada do mesmo que é a gula, e, não esquecendo que da fome não deriva necessariamente a imagem alusiva a um pecado mortal, para mim, foi mais a ingenuidade que me matou. Começou levemente pelas partes mais íntimas do meu ser, interferindo na base de todos os sistemas possíveis. Sinto-me completamente desarmada a toda esta revolução espiritual que a felicidade provoca.
Os meus tímpanos agradeceram toda aquela sonoridade deliciosa carregada de amor e tom de macho incrível que me mexe no fosso do sexo elevando-me a um estado superior de leveza e tranquilidade, já para não falar do prazer que tudo isto me provoca. Todas as palavras ressoam como o tocar de um sino numa aldeia de dez habitantes, todas elas entram uma por uma com o mesmo valor intrínseco inquestionável, toda a gente sabe que o sino tocou e toda a gente se lembra do seu toque; eu lembro-me do teu, como se fosse hoje, também não foi há muito tempo, é verdade, mas se ao amor platónico se juntasse o físico, tenho a certeza que teria sido há muito menos; és brilhante, e para além disso tudo, como se não bastasse, és perfeito, no teu conjunto todo, és lindo, absolutamente genial. Obrigada.