quarta-feira, 13 de agosto de 2008

"The Killer is me"

Vislumbrei por entre a vitrina da loja a embalagem de comprimidos milagrosos, era redonda e pequena, mas cheia, muito cheia por dentro, a abarrotar de efeitos secundários e de desígnios menos dignos e colorida, como se também os olhos pudessem tomar a dose necessária e viajarem para outra dimensão e talvez permanecer por lá em férias prolongadas até à eternidade, estava só, meia escondida por detrás de todas as outras caixas de medicamentos para a vida, que perda de tempo!, atrasar a morte é algo deveras grotesco , e muito típico do ser humano que cisma em atrasar tudo o que o tempo não pode vir a realizar mais tarde.
Olhei mais de perto para poder enviar ao meu cérebro o número exacto da quantia que tinha de cobrar para ser feliz, disfarcei como se tivesse também a olhar para outro preço, não vá a sociedade recriminar-me agora por ter uma pequena e inútil curiosidade, e de repente senti um” não” a percorrer-me cada vaso capilar, não o posso comprar, demasiado caro, e nem sei se algum dia conseguirei dar-lhes uso. Agora, preferia não ter visto nada, ter-me deitado a dormir e imaginar que estava onde eu queria estar, teria sido tudo tão mais fácil, teria sido tudo tão menos doloroso, mas há sempre retalhos que me obrigam a caminhar descalça pelo caminho mais longo, e desgastam-me os músculos e a mente, preciso de descanso, um terno descanso.
Se alguém disse que as férias são milagrosas, enganou-se redondamente; as férias não são mais que um fardo, um prolongamento do tempo que temos a sós, uma solidão tremenda entre a alma e o corpo que nos obriga a pensar em perguntas sem resposta e a deixar trespassar a tristeza compulsiva, há que ter sempre algo de baixo da manga e realizar sem qualquer pudor, tentando desligar os pensamentos insanos sobre a vida e as coisas, eu tentei, juro que sim, mas quanto mais tento, mais falho por simplesmente saber que o único objectivo destas tristes tentativas é mais uma tentativa de me deixar menos mal em relação a tudo. E se ao menos tudo fosse igual a ti, limpo e forte, insano mas verdadeiro em todos os ínfimos pensamentos, o mundo seria o paraíso e deixaria saudades. As coisas não tardam nada a voltar ao berço, a verdadeira avalanche ainda está para vir.

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