quarta-feira, 16 de julho de 2008

Espera impotente

Por entre os espinhos das rosas murchas floresce o micróbio da dor, uma doença que se alastra por tudo o que é belo e virgem, por entre os pinhais de natureza inocente, por entre os campos com sementes prontas a florir, esperando pela primavera para que tudo posso fazer da sua voz palavras que dançam ao som do vento até chegarem ao céu e perderem-se na imensidão do universo, esperando um dia serem recordadas por alguém, como se algo ficasse eterno no coração dos que morrem, como se algo jamais pudesse ser feito alimento dos insectos que rasgam a carne flácida do que outrora foi vivo e colorido, e até mesmo nos dias mais cinzentos, e na dor mais aguda, resistiam à vida, porque à morte não se resiste.
É tudo uma espera impotente, uma espécie de sala acalorada pela impaciência humana, onde os seres vivos combatem contra o tempo, que sempre que é preciso está a descansar no leito do mundo. E é impotente porque a paz não a abraça na hora da despedida, é uma guerra incessante, são batalhas que perduram todas as vidas de quantas mortes já sucederam, não há vencedores nem vencidos, é uma guerra incapaz e débil assim como toda a carne no mundo.
Um dia, vou sentir falta do que não vivi, e nesse dia, tudo irá ser tarde demais. É por isso que aqui estou, para sentir na minha pele que se queima com o calor do sol, a dor do que já não pode voltar mais, de erros irremediáveis, de problemas irredutíveis de respirares incansáveis e tentativas falhadas de manter o barco em equilíbrio neste oceano sóbrio.
Vejo dor naquela rosa que me deste, vejo dor em todo o lado para dizer a verdade, salpicos de água choca, e vejo mosquitos a picaram as pétalas que ofuscam os olhares, vejo uma cama e um quarto fechado, paredes a gritarem no silencio, a roupa a chorar lágrimas de pânico pelo corpo que ousaram abraçar, um espelho que se parte a cada reflexo, uma janela inatingível, uma escada rota, terra molhada, pedras de cimento, letras hipócritas, memorias enterradas, insectos saciados, um portão, um sino de uma igreja, um olhar seco e … um ramo de alecrim pousado sobre a pedra…

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