segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Olhei para o céu. Engoli as nuvens e ceguei-me com a sua beleza. Pobre criança, não merecia. Vidrei as pupilas de azul e com um pouco de branco à mistura tentei respirar a verdade, a triste verdade.
O mar, enfurecido, continuava no seu vaivém inconstante, e desesperadamente acabei por desejar que o pior tivesse acontecido comigo; era uma questão de justiça, não de vontade. Roubei muitos tempos ao tempo até tomar consciência do presente que acabava de viver. Senti uma vontade repugnante de lhe contar que o mundo continuava igual mesmo depois da sua partida breve, que o mundo, por muitos anos que passasse conservava a sua história, qualidades e defeitos. Queria provar-me que era melhor assim, que era melhor partir do que apagar-se aos poucos. Mas não, pobre criança!, mal sabia o que era o amor, pobre criança mal sabia que ainda havia tanto por descobrir.
Todos os dias são lindos para morrer, mas nenhum dia é bonito para se ver morrer alguém. São coisas que nos sujeitam a partir do momento que nos fazem. São coisas da vida, porque é, ainda na vida, que tudo se sente e que tudo dói. Vou ter saudades do teu sorriso. Adeus.

2 comentários:

Ana Moreira disse...

Eu nem sei bem o que dizer perante um texto destes... Estou fascinada!

qel disse...

«Fez-me lembrar da voz que já perdi de uma pessoa querida que faleceu».

Acho q agora, somando dois com dois, encontrei o quatro.
Força!