sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009


Todas as personagens da minha peça de teatro morreram contigo. Isto, nem mais, nem menos, porque não me imagino sem ti; não há nenhum fragmento de segundo que te deseje menos do que o que desejo agora. Gostava de tactear-te o corpo mas a vida pregou-me mais que uma simples cegueira, ela levou-me, também, ao desespero efémero de quem ama e não toca.
Guardo os possíveis segredos que se podem libertar do meu saco, na mão, bem presos com pintas de luz que atravessam os buracos entre os dedos. Prometo-me não arriscar sequer contar a alguém como é enorme o diário da tua ausência, da nossa, quero eu dizer. Não quero que ninguém tenha pena de nós. Basta a nossa.
Remexo no saco, dou voltas como se estivesse num programa rígido qualquer de uma máquina de lavar roupa, acabo sempre por perder o telemóvel, e, há dias em que penso que o faço conscientemente…como se fosse uma forma de me testar, de testar quanto tempo respiro sem um sinal teu.
Afinal, tanto eu como tu, sabemos que esse tempo não é muito, mas somos mais do que um relógio ocidental, somos o presente, o presente no seu grau maior de perfeição temporal.
Deixa morrer. Faz-te bem. Mata os outros e liberta-me. Obrigada.

3 comentários:

David Pimenta disse...

Deixa morrer. Faz-te bem. Mata os outros e liberta-me. Obrigada.
Gostei imenso deste texto e da música :)
beijinho

Ana Moreira disse...

O final está divinal!
"Não há nenhum fragmento de segundo que te deseje menos do que o que desejo agora."

Anónimo disse...

"Gostava de tactear-te o corpo mas a vida pregou-me mais que uma simples cegueira, ela levou-me, também, ao desespero efémero de quem ama e não toca."

Quem ama e não toca... Um dia quando fores muito muito grande e puderes escolher o teu local, vais poder brilhar onde quiseres, em qualquer constelação. Aí sim, vais poder provar o amor na sua total plenitude, e esperemos que seja para sempre. Ao menos tu amiga!

Está tão bonito minha estrela... Estava com saudades de te ler.

Amo-te